André Monteiro, o poeta que sabe que um poeta não se faz com versos.
Pode parecer óbvio – desde que Torquato nos deu a senha –, mas não é.
A poesia é de todo mundo, mas não é pra qualquer um.
É um embate, um enfrentamento. Uma conjugação da valentia.
Entre tantos outros charmes e feitiços, claro.
A poesia é muita coisa. Um mundo. Uma galáxia.
Um das possibilidades de respiração por este planeta.
Uma revolução de pele. Uma ação direta da alma.
Coração-cabeça – Pessoa – Augusto de Campos
É, meu chapa, André Monteiro não está para brincadeira!
Xamã de Juiz de Fora, por dentro das inspirações do nosso tempo.
Talha coisas quentíssimas nas malhas do coração:
aviso a uma navegante
não aceito suborno
aceito provocação
desse barco
só saio de coração
É o coração tingindo as dobraduras, as circunferências, as experiências totêmicas desta vida. Um coração explosivo, sanguíneo.
É o coração pensando, livre, leve e louco!
Coração de poeta num coração de xamã. Chamas!
Um livro de poesia no departamento de teoria literária não adianta nada.
Como diria o Vaneigem, a “verdadeira poesia não dá a mínima para poemas.”
A poesia está em algum lugar, em todos.
Naquele conhaque no centro da cidade, atrás da jarra de suco naquele filme mexicano, na lista telefônica, na briga de rua, naquele folk perdido, no oceano morno das lágrimas, naquele beijo apaixonadíssimo.
Na rua, na rua, na rua!
A poesia é a revolução. Mais uma vez, Vaneigem: “O seu recente abandono das artes torna mais fácil ver que ela reside antes de tudo nos gestos, num estilo de vida, numa busca desse estilo. Reprimida em toda parte, essa poesia por toda parte floresce. Brutalmente recalcada, anima os grandes carnavais revolucionários antes que os burocratas lhe fixem residência na cultura hagiográfica.”
Por isso, sendo poeta-xamã, mineiro dos tesouros que fixam o alumbramento nesta nossa existência que só se configura pela valentia, André nos escreve coisas como:
tudo
que
vi
li
fumei
ouvi
tomei
temi
amei
parti
trepei
aguentei
gemi
fudi
fugi
não flui
agora
aqui
No mais: Evoé, André! Estamos lendo, estamos livres, estamos lindos!
Fabiano Calixto
(Poeta e tradutor)
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