terça-feira, 30 de setembro de 2014

Tomando “Cheguei atrasado no campeonato de suicídio” aos goles

Sobre Cheguei atrasado no campeonato de suicídio, após vê-lo, em devir, entre as frestas das redes sociais, chegou-me às mãos no dia 31/05/2014 como presente do querido autor. Lindo! Foi o que exclamei repedidas vezes enquanto admirava a belíssima fotografia de capa, observando orelhas e dedicatórias. O calor vivo do corpo do livro, das páginas, a dança das palavras a se disporem e ocuparem e territorializarem os espaços, rompendo, infiltrando. Seria preciso aguardar os momentos de solidão em que o saborearia sozinho.

Primeiro fui à página 164. Depois, à página 170. As conexões aprofundaram-se, a observação de tantos nomes conhecidos trouxe, para mim, sabor de festa ao primeiro contato. Como sabemos, em um rizoma insaturável, como nessa obra, são muitas as portas de entrada. E a opção “por onde entrar” também modifica as conexões, o mapa do rizoma. Voltemos então ao princípio: é pelas esquinas, brechas e curvas que encontro amigos, conhecidos e antigos desconhecidos – encontros – como em uma festa aparecem em afetuosas dedicatórias ao desfolhar as páginas de “cheguei atrasado”. O belo encontro das forças. O “irrepresentável que se apresenta.”

Mas nem tudo são festas pelas frestas. Feridas doídas, adormecidas, marcas de cicatriz, quando são reconhecidas pelos olhos dos amigos é que, de alguma forma, também neles se põem a doer. E a dor é aguda e profunda: é vida!

Não é livro de um só fôlego, mas para ser tomado aos goles (já na página 106).

Um livro que não se cansa, do qual não se cansa. Com muitas esquinas, encontros, rupturas e aberturas. Um livro que exige paradas para pensar. Como um vírus, vai ocultando-se em organismo alheio, modificando-o sutilmente, afetando e interagindo com suas enzimas. É preciso se conter, pois a cada linha sentimo-nos atrasados para a próxima. Estamos constantemente em atraso em relação à leitura e releitura e ao repensar de “cheguei atrasado no campeonato de suicídio”. Mas a literatura dá um passo à frente. Como bem diz o poeta, “chegar atrasado é chegar sempre na hora certa de dobrar nosso depois” (p. 127).

(Estou atrasado, certamente, não só com o postar destas linhas, como também com a próxima releitura).

Sávio Damato
(escritor e mestre em Estudos Literários pela UFJF)

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