É impossível fugir da palavra. Ela fala sem que se fale
dela. Quando se tenta sem êxito falar nela ou falar-se através dela.. só se
permite que ela se cale. Apenas quando se deixa deixar o todo da palavra viver
na vida... e enfim ela te suicidar (antes a você suicidá-la.)... se pode
anunciar que a palavra vem aí! E pronunciá-la em alto e bom som, pra que ela
viva sem você.. mas se relacione COM você ..em todos os seus descontornos...
vociferar a verve viva de uma palavra rara. A raridade da palavra não se cria
pela criação incomum de alguma palavra inventadinha. A raridade da palavra se
cria pela cria da palavra. Não sua. Nunca se propõe uma palavra. A palavra não
se põe, nem se impõe à serviço. E ainda sim... é impossível fugir da palavra.
Mesmo quando sendo a palavra coisa alguma... ainda sim é alguma coisa viva.
Nenhuma palavra é nada, mas o algo da palavra... não é nada demais. Mas em um
papel em branco todo algo é tudo. Aí a mania dos poetas de fazer poemas. Vem
criar sua cria e a palavra se transfigura num criado. e mata-se o seu criar. Me
avisem se achá-lo em alguma fresta dessa festa de letras frustadas, mas não
creio. Chamam-me poeta, porque faço poema. É o poeta o que mais do que um
sabedor de palavras? Quem não sabe das palavras que me diga! Eu só mendigo
letras, que nem são letradas nem nada, e tento furá-las com a minha caneta, mas
não dá. Só furo símbolos, suas possibilidades continuam possíveis e passíveis
de ser alguma coisa sua. Não posso reivindicar minha autoria se nem sequer fiz
poesia mais do que um vômito de coisas velhas que tirariam nota zero na prova
de literatura da escola. O dono que se dane!! Eu sou aqui e ali aquele
alguém
capaz de
arrancar
aquela gargalhada mortal
não dos que debocham
mas dos que simplesmente
descobrem arrepiados
que estão vivos ".
Que palavras falam mais do que as que eu
nunca poderia
mesmo que quisesse
dizer qualquer coisa
de alguma coisa sua.
Não digo sobre você
falo com você. Você
Você... que é um eu dos teus muitos nossos
nossos muitos meus são dele, ele sou nós
daqueles muitos vocês.
Em tempos -
entre tropeços e gargalhadas, a gente vai rindo e tropeçando.
Ler o
livro-janela Cheguei atrasado
no campeonato de suicídio é
o mesmo que acontecer. É estar aberto a rachadura viral da vida que te consome
e se consuma a todo instante que some e assume formas de escapar pelas beiradas
da palavra. Não há o livro, há janela! Nos oferecendo a possibilidade de
saltar. Mas "para saltar é necessário esquecer as possibilidades do salto
e viver seus impossíveis". Saltar é suicidar-nos para ser - dentro do
livro - um outro. Falem o que quiserem os críticos literários, André Monteiro
não escreve em verso. André Monteiro escreve inverso, explode e afeta o que
ainda não tem palavra. Monstruosidades vivas borbulhando e expelindo suas
entranhas mais estranhas de tortuosidade tuas... e afirmando para todos os
ouvidos e sensações: ESTOU VIVA!
Lucas
Zylber
(poeta e
estudante de filosofia da UNB)
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